por Ruymar Marazo Soares
Sou bibliotecária, mas gosto muito de história, gosto de saber como as coisas surgiram.
A biblioteconomia e a história estão ligadas, pois vejo como uma responsabilidade do bibliotecário disponibilizar o máximo de respostas possíveis às necessidades dos usuários. Como eu posso indicar um livro se não entendo pelo menos um pouquinho dele?
Teve um tempo que trabalhei em bibliotecas universitárias e li quase todos os livros que falavam da história das profissões, como: A história da educação; A história da administração; A história da medicina, que aliás foi o melhor deles. Além de eu me interessar de como as coisas surgiram e se evoluíram ao longo dos tempos, me agregava conhecimento e também me ajudava a compreender melhor o acervo.
E por que estou dizendo tudo isto?
Meu irmão me pediu que escreve algo para este blog que está relacionado com o site da loja da minha cunhada. É uma loja de roupas, então nada mais justo que contar um pouquinho como foi a evolução das roupas ao longo dos tempos.
Coloquei-me a pesquisar e li muitas coisas interessantes, que sintetizei aqui nestas linhas. Sugiro que quem goste do assunto se aprofunde mais nas leituras do tema, vale a pena, vou inclusive no final deixar umas dicas de sites e de livros.
Nesta quarentena também pensei muito na roupa da alma muito antes do meu irmão me pedir pra eu escrever. E aí resolvi tentar fazer um paralelo dos dois assuntos.
Espero não confundir sua cabeça!
Vamos lá, entenda um pouquinho da história da roupa e no final eu conto porque dei toda esta volta.
Boa leitura!
As roupas acompanham os seres humanos desde a Pré-história, estudos mostram que a primeira forma de se vestir veio através da confecção de fibras de origem vegetal, arqueólogos encontraram agulhas primitivas feitas de ossos, que datam de mais de 30 mil anos. Estima-se que há mais de 25 mil anos a civilização já havia dominado a técnica da fabricação de fios. Na era glacial, os humanos confeccionavam roupas de peles de animal.
Os homens começaram a se vestir com intuito de se proteger do frio, da chuva, dos ferimentos e também por uma questão psicológica que lhes conferia bravura e habilidades e até poder de caça. Surgindo assim um senso de identidade.
Os materiais para produzir roupas foram aprimorados durante os séculos. O linho, por exemplo, foi inventado pelos povos do Oriente Médio. O algodão pelos indianos provavelmente nos anos 3.000 a.C.
Na Antiguidade as roupas indicavam riqueza e poder social. Só os adultos de família de classe alta se vestiam. Há registro do Egito antigo que os homens usavam um pano amarrado em volta do quadril e as mulheres usavam vestidos amarrados nas costas. Os persas, parece, que foram os primeiros as fazer roupas sob medida ao invés de usar pedaços de tecidos.
Na Idade Média as roupas começaram a ficar mais complexas. Os nobres da Europa passaram a usar roupas mais pesadas e pomposas. As pessoas mais humildes usavam roupas retas e apenas presas ao tronco, como túnicas.
No Renascimento especialmente na corte espanhola, a moda ficou extremamente extravagante, principalmente entre as mulheres, foi neste período que surgiram aa golas enormes nos vestidos. E pasmem esta tendência durou aproximadamente 200 anos. No século XVII a França passou a dominar as tendências da moda e ditar normas e ser copiadas por outros países menos pelos ingleses que preferiam e mantiveram um estilo sóbrio e sem muitos enfeites.
Com a Revolução Industrial, o surgimento das máquinas trouxe muitas mudanças e modifica o modo de fabricação das roupas, porém ainda era um privilégio dos mais ricos, que podiam adquirir peças da moda. Nesta época fora criado o jeans.
No século XX as roupas passar a ser produzidas em maior escala, porém foi apenas à partir dos anos 50 que houve a grande transformação. Nesta época surge muitos estilos e tecidos variados e cortes universais e também a liberdade para se expressar e o modo de se vestir ganha força.
Da fibra de vegetal e pele animal que vestia o homem da caverna até a camiseta do homem moderno, as roupas acompanham os seres humanos ao longo dos séculos e ela além de nos proteger são maneiras de nos expressar e mostrar ao mundo quem somos.
A nossa aparência é uma declaração visual da nossa personalidade.
Em 1984 a marca UStop lança uma comercial na TV que traduz a importância de se vestir com estilo e diferente do padrão tradicional e com o slogan: “O mundo trata melhor quem se veste bem”, dá uma guinada de como é importante a maneira de nos vestirmos para estreitarmos laços ou conseguirmos destaques.
O modo de se vestir pode revelar e fazermos compreender muito sobre uma sociedade. O estilo como a pessoa se veste pode nos fazer compreender sua posição social ou cultural.
Depois te ter falado bastante de estilos de roupas físicas, proponho uma reflexão sobre a roupa da alma.
Mário Quintana um dia poetizou sobre que “viajar é mudar a roupa da alma”, querendo tratar, eu acho, o que uma boa viagem significa em nossas vidas, pois viajar não é apenas ser você mesmo num lugar diferente, nos traz também mudanças, que vão além de contemplaras paisagens. Viajar nos faz conhecer outras culturas, outros povos, outros ares, outras consciências.
E ao tomarmos consciência, trocamos a roupagem da alma compondo um novo visual de valores, que nos transporta para outros patamares e talvez até a outros estilos de vida.
E nesta premissa te pergunto com que roupa você vai voltar? Voltar ao trabalho, as suas relações pessoais e interpessoais, com que roupa você vai voltar ao convívio?
Nestes muitos meses de quarentena, eu pensei muito na frase do querido poeta Mario Quintana.
Claro que não fiz e nem pretendi fazer nenhum tipo de viagem física, mas viajei muito pelos livros, pelas histórias, pelos pensamentos, pelas reflexões, pela internet então nem se fala.
E por que fiz este paralelo entre a história da roupa e a da roupagem da alma?
Pra mim elas estão intimamente ligadas, pois a roupa que a gente veste todos os dias diz muito sobre nossa personalidade. Proponho a você se fazer a pergunta: Com que roupa eu vou voltar? A quarentena me fez rever conceitos? A quarentena fez eu ver a vida de outra maneira? Fez eu ser mais solidário? Acrescentou na minha fé ou na minha convicção de vida? Mudou meus projetos? Abriu meus horizontes? Eu me permiti um tempo para estas reflexões?
Estamos ainda passando por momentos tumultuados, aliás até chegar à vacina ou um remédio eficaz que nos tire da eminência do perigo teremos que nos resguardar o máximo e sentiremos medo.
Mas quando tudo passar a minha alma estará de roupa nova?
Referências e Dicas de Leituras:
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